O medo é um vilão?

Apesar de ser uma sensação ou uma experiência tensa e desagradável, a falta dele pode nos deixar em perigo, e um pouco dele, pode ser fator de segurança.

Em Liderança em foco, Cortella e Eugenio Mussak falam que o medo é um estado de atenção. O medo é um mecanismo de defesa do nosso organismo e se o indivíduo perder esse instinto ou essa força de reação, fica vulnerável. De certa forma, o medo serve como um sinal de alerta.

O medo faz parte das diversas emoções do indivíduo em qualquer fase da vida. No universo infantil, em alguns momentos, ele é demonstrado por palavras e gestos, por choro e movimentos corporais e em outros momentos, nem sempre tão perceptíveis de imediato. Fantasias e realidades se confundem e a frequência ou a intensidade que o medo pode acometê-las vai depender da realidade e do contexto em que estão inseridas, por isso as crianças podem demonstrar reações diferentes entre elas. Pode tratar-se de uma situação pontual, passageira ou não, pela qual ela ou a família estejam vivenciando.

A criança precisa, com ajuda de um adulto, fazer uma análise sobre o real e o imaginário no cenário do medo que ela construiu ou vive.  Imaginar, na cabeça de uma criança, pode ser incorporar seres do bem ou seres que amedrontam. A angústia que acompanha o medo pode ser uma experiência dolorosa para a criança e às vezes, o adulto não percebe. Trata-se de uma angústia de uma determinada situação não resolvida.  A criança pode sentir medo do desconhecido, mas também do que se conhece e está por perto.

O medo é um estado de progressiva insegurança e angústia, de impotência e invalidez crescentes, ante a impressão iminente de que sucederá algo que queríamos evitar e que progressivamente nos consideramos menos capazes de fazer. (DALGALARRONDO, 2006, p. 109)

Como podemos perceber e ajudar a criança a vivenciar seus medos e vencê-los ou atenuá-los? Há medos mais simples de serem vencidos, como o medo do trovão, do escuro, de criaturas imaginárias, e os mais complexos como o medo de alguém da família ficar doente e o medo de se perder a mamãe ou o papai. O medo da morte no imaginário infantil é mais comum do que muitos pensam.

Não há uma receita pronta quando se trata de emoções e de como conduzi-las. O desafio torna-se ainda maior quando nos referimos à infância.  Mas é possível buscarmos fortalecer e ajustar as emoções da criança para um melhor convívio com as demandas sociais que aparecem e que podem amedrontar.

Vale a pena o adulto pensar como se sentia antes de uma determinada situação de medo e como passou a se sentir após esse momento vivido.  Quais marcas ficaram? Saiu mais fortalecido ou ainda mais inseguro? O medo foi vencido?

Agora vamos pensar como uma criança deve se sentir ao vivenciar uma situação de medo, sem conseguir resolver, de forma satisfatória, o que lhe causa tal sentimento. E ainda com o prejuízo de, muitas vezes, não saber demonstrar em palavras o que realmente a aflige. É possível que ela, além do medo, comece a sentir raiva de si mesma, sentir-se sozinha e mais insegura, fechada no que a apavora.

Como ajudar uma criança a administrar seu medo?

  • Ajude a criança a verbalizar o que está sentindo. Dê exemplos de sentimentos e emoções para que ela consiga se identificar.
  • Acolha o medo da criança, não menospreze o motivo do medo dela. Ao perceber que a criança está ansiosa, aproxime-se dela e deixe-a perceber que você está ouvindo-a com atenção.
  • Observe as brincadeiras, nelas surgem falas, reproduções de fisionomias e sentimentos que dão sinais de possíveis medos.
  • Planeje com a criança um pequeno “plano de ação” na hora que o medo chegar até que ela possa conversar com o adulto para ajudá-la.
  • Procure saber se o medo da criança tem sido mantido em segredo e por quê?
  • Organize uma anotação com os medos que a criança já venceu desde que nasceu e elogie. Isso fortalecerá sua autoestima.
  • Crie com a criança algumas frases para fortalecê-la na hora do medo, por exemplo” Eu sou forte”. “Eu não estou sozinha (o) ”.
  • Evite frases “ Isso não existe” ou “ Não tenha medo”. Para a criança, o medo é real. Frases assim, pode deixar uma sensação de que o medo dela não está sendo tratado com a devida atenção e seriedade.
  • À medida que houver oportunidade, durante conversas e situações do dia a dia, dê exemplos de alguns medos que podem colocar a criança em risco. Medo de escadas, de janelas, de interruptores e tomadas, de violência, de alguns animais, de vírus, de objetos cortantes, de se perder do adulto e repasse os cuidados necessários para cada um deles.
  • Se o medo estiver intenso, ofereça à criança objetos que possam transmitir uma sensação de segurança como um objeto dos pais, um bichinho de pelúcia, recadinhos no travesseiro.
  • Contar histórias com personagens que sentiram medo, pode ser uma abordagem próxima da compreensão das crianças.

Evitar os causadores do medo nem sempre é o caminho mais assertivo, porque muitas vezes, estamos apenas adiando uma situação de mal-estar. Vencer o medo é um processo que merece um tempo próprio, relativo e pessoal. Cada medo no seu tempo e com todo o respeito.

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